“Um Bravo do Nordeste” – o faroeste nordestino filmado em União dos Palmares

O diretor Edson Chagas e atores durante a filmagem de Um Bravo do Nordeste em União dos Palmares. Foto: Reprodução.

Um Bravo do Nordeste é um filme brasileiro de 1931, do gênero faroeste, dirigido por Edson Chagas.

Gravado inteiramente em União dos Palmares, foi lançado em Maceió em 8 de maio de 1931.

Sinopse

Um ladrão de gado (Francisco Rocha Filho) tenta enganar um rico proprietário (Adalberto Montenegro), comprando o seu gado. Chegando à fazenda, apaixona-se pela filha do coronel (Nice Aires) e se dispõe a casar. Vendido o rebanho, o fazendeiro vai ao banco depositar o dinheiro, mas o caixa se recusa a receber porque o dinheiro era falso[1].

Realização

Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som da Fundação Teatro Deodoro (Funted), Ernani Passos conta que idealizou o filme na mesa do bar com Edson Chagas, cineasta pernambucano recém-chegado a Maceió[2]. As filmagens duraram cerca de 90 dias, custando 16 contos de réis. Os negativos usados para filmar foram importados de Paris por 450 mil réis.[3] A obra foi financiada por Francisco da Rocha Cavalcanti (Coronel Chico Rocha), que também atuou como vilão. Ele era fazendeiro e empresário em União dos Palmares, promoveu a instalação de luz elétrica, água e do primeiro cinema da cidade. Tinha o sonho de atuar num filme.[4]

Paradeiro do filme

Conta-se que o pernambucano Edson Chagas sumiu com a única cópia existente depois da realização dos lançamentos pelo estado, que ocorreram em cidades como Maceió e Pilar[5]. Ele voltou para Recife em 1931. Em 2007, o jornalista Rafhael Barbosa, em reportagem para Gazeta de Alagoas, conversou com o cineasta e jornalista Fernando Spencer, que relatou ser muito difícil encontrar a obra num estado de conservação possível de restauração.[6] 

Elenco de  “Um Bravo do Nordeste”: Ernani Passos, Adalberto Montenegro, Nice Aires, Elizabeth Montenegro, Francisco Rocha Filho e Walmira Graça.

Referências

  1.  «FILMOGRAFIA – UM BRAVO DO NORDESTE»bases.cinemateca.gov.br. Consultado em 30 de maio de 2021
  2.  Barros, Elinaldo (1994). Rogato: A Aventura do Sonho das Imagens em Alagoas. Maceió: Seculte
  3.  Ferraz, Ana. «Da literatura adaptada: contribuição à história do cinema alagoano». Encontro Nacional de História da Mídia
  4.  Ferreira, Franco (2013). A História da Terra da Liberdade. União dos Palmares: Clube de Autores Publicações S/A. p. 82
  5.  Barros, Elinaldo (2010). Panorama do Cinema Alagoano. Maceió: Edufal
  6.  Barbosa, Rafhael (9 de maio de 2007). «História sem fim». Gazeta de Alagoas. Consultado em 20 de maio de 2021
Fonte: Wikipédia
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Um Bravo do Nordeste *

“Edson Chagas era pernambucano de Catende, onde nasceu em 18 de janeiro de 1903. Muito cedo, seguindo o caminho de muitos nordestinos, foi tentar a vida no Rio de Janeiro, onde aprendeu a profissão de ourives e trabalhou por algum tempo numa produtora de filmes.

De volta a Pernambuco, fundou a Aurora Filme em 1924, numa parceria com Gentil Rols. Em 1927, Edson Chagas criou a Liberdade Filme em sociedade com Dustan Maciel (tinha 18 anos de idade) e Ary Severo.

Naquela década foi diretor de fotografia de nove dos 13 filmes produzidos em Recife, entre eles Filho sem Mãe, considerado o primeiro filme brasileiro sobre o cangaço. Essas produções eram exibidas no Cinema Royal em Recife, graças à amizade que o proprietário tinha com os produtores.Num depoimento em 1970 para o MISA no Rio de Janeiro, Dustan Maciel lembrou que brincavam com o nome da empresa. “Foi até engraçado que se chamasse assim (Liberdade Filme), pois o Edson passou muito tempo fugindo da cadeia, por causa das marmeladas que fazia”, lembrou rindo.

Decido a ir morar no Rio de Janeiro, no início de 1931 Edson Chagas chegou a Maceió e mobilizou a cidade com a proposta de produzir o primeiro filme alagoano. Com o apoio de Rogato e a mobilização de alguns investidores, criou a Alagoas Film (Luiz Júnior era o diretor comercial).

Dias depois, ainda em janeiro de 1931, já produzia dois curtas como mostra da capacidade da empresa.

Um dos investidores mais entusiasmados foi o empresário rural Francisco da Rocha Cavalcanti Filho (1897 – 1970), o Chico Rocha. Era proprietário da Fazenda Santo Antônio da Lavagem em União dos Palmares, herdada do seu pai, o ex-governador Francisco Rocha Cavalcanti.

Apaixonado pelo cinema e sonhando em participar de um filme, resolveu bancar os custos da produção, estimados em 30 contos de réis. Mas exigiu que fosse rodado em União, futura União dos Palmares, nas fazendas Anhumas e Santo Antônio da Lavagem.

Assim surgiu “Um Bravo do Nordeste”, cujo roteiro foi escrito por Edson Chagas e Ernani Passos, o galã do filme, a partir do enredo proposto por Chico Rocha. O diretor de fotografia foi Antônio Rogato (provavelmente Guilherme Rogato) e o produtor Guilherme Gaudio.

Era uma história de amor, roubo de gado e alguns tiroteios. Alguns pesquisadores consideram que esse filme foi o primeiro do país a copiar abertamente os faroestes produzidos nos EUA.

Contando com Chico Rocha como o vilão, o filme mobilizou os seguintes atores: Ernani Passos, Nice da Rocha Aires, Adalberto Montenegro, Elizabeth Montenegro e Walmira Graça. Há registro em Filme & Cultura nº 16 (1970) da participação de Moacir Miranda.

Um registro da revista Cinearte informa que em abril de 1933 o filme foi exibido em sessão especial no Rio de Janeiro, revelando que a sua montagem aconteceu naquela cidade. O crítico da revista considerou Um Bravo do Nordeste como “um dos mais fracos filmes brasileiros que temos visto, mas tem a originalidade do seu ambiente nordestino, poucas vezes apresentado no cinema”.

De volta a Maceió, em 8 de maio de 1931 o filme foi lançado festivamente no Cine Capitólio (esquina da Rua do Comércio com o Beco do Moeda), contando com a presença das principais autoridades do Estado. Sabe-se ainda que em Alagoas, além de Maceió, o município do Pilar também assistiu a Um Bravo do Nordeste.

A partir de 1º de agosto, o primeiro longa-metragem produzido em Alagoas passou a ser exibido em Recife.

Diário de Pernambuco de 2 de agosto de 1931 informou em uma nota que o filme foi rodado em 3 meses e destacava o ator principal, Ernani Passos, como um galã, “verdadeiro tipo de atleta”, que mostrou um trabalho digno de admiração, “pois como estreante na arte muda portou-se como um verdadeiro herói e perigoso rival de Hoot Gibson e Tom Mix”.

Continuava a crítica: “Outros artistas: Nice Rocha, uma formosura das terras das Alagoas é a ‘estrela’ do filme; Elizabeth MontenegroFrancisco Rocha Filho e Adalberto Montenegro (fazendeiros em União – Alagoas), além de um grande número de vaqueiros”.

Outra nota, de 5 de agosto, revelou que “as cenas das vaquejadas e outras da vida do sertão são de apreciável sabor de realidade”.

As exibições em Recife foram as últimas mostras do filme. A partir daí não se sabe o destino que ele tomou.

Edson Chagas, que se estabeleceu no Rio de Janeiro, teve seu nome citado como ator em 1933, ao participar do filme Ganga Bruta.

Era um dos profissionais mais requisitados na capital federal para filmagens. Se tornou um dos melhores cinegrafistas do país em sua época.

Em 1935 era o diretor técnico da Sociedade Anônima de Filmes Limitada Edson Filme, fundada em novembro daquele ano. Sua atuação nas filmagens do filme Maria Bonita em 1937 foi muito elogiada pela crítica. Em 1950 dirigiu o filme católico O Poder da Santíssima Virgem baseado na história de Senhora Aparecida.

Edson Chagas foi roteirista, cinegrafista, diretor, argumentista e produtor, um verdadeiro “bravo” dos primeiros tempos do cinema brasileiro.

Faleceu no Rio de Janeiro em 17 de março de 1952, aos 49 anos de idade.”

* (Fonte: “O cinema alagoano 90 anos depois”, por Edberto Ticianeli, no site História de Alagoas)

 

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