JORGE DE LIMA
Para não apanhar mais
Falou que sabia fazer bolos.
Virou cozinha.
Foi outras coisas para que tinha jeito.
Não falou mais.
Viram que sabia fazer tudo,
Até mulecas para a Casa-Grande.
Depois falou só,
Só diante da ventania
Que ainda vem do Sudão;
Falou que queria fugir
Dos senhores e das judiarias deste mundo
Para o sumidouro
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A poesia social popularizou Jorge de Lima
O poeta palmarino Jorge de Lima, depois de publicar seu primeiro livro de poemas “XIV Alexandrinos”, formado por sonetos dodecassílabos, sob influência parnasiana, teve, ao converter-se do seu ateísmo juvenil, a poesia religiosa, com Murilo Mendes (A Túnica Inconsútil).
Mas a fase marcante de Jorge de Lima é sua poesia social, a poesia negra, vertente em que busca, em suas memórias de infância, imagens da escravidão, inspirado na luta dos escravos fugitivos, em busca da liberdade, para o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, que ele avistava do sobrado de sua casa, no largo da “Matriz da Madalena”.
Foi a poesia social de Jorge de Lima que o popularizou, na segunda geração do modernismo brasileiro, marcada pela preocupação com temáticas sociais, explicado também pelo contexto histórico-político. A década de 1930 foi marcada pela conturbação das instabilidades econômicas, a quebra da Bolsa de Nova York e o Estado Novo, de Getúlio Vargas.
Em Jorge de Lima, essa preocupação assume o tom da poesia social, tematizando a vida dos negros escravizados. O livro “Poemas Negros” (a poesia negra de Jorge de Lima), publicado em 1947, é o maior representante da poesia de vertente social.
Destaca-se, também, a importância do negro para a formação de um novo ser, o brasileiro, marcado pelas origens étnicas diversas. Nesse sentido, o livro aborda a influência da cultura africana na cultura brasileira, sem deixar de ressaltar em seus versos a crueldade com que era tratado o negro na sociedade.
O desejo de uma realidade melhor e a esperança na mudança se fazem notar em seus poemas que, ao transparecer o regime de crueldade vivido na escravidão, mostram a resistência ao sofrimento e a força da poesia diante dessa barreira racial.
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- Com Bianca Ferraz