Redação do PCO
Dentre as diversas posições que surgiram para defender a Ucrânia e atacar a Rússia nas últimas semanas, a mais grave e absurda delas é a de que a Rússia é um país imperialista. Esse posicionamento fica ainda mais grave quando se descobre que seus principais entusiastas são da esquerda, ou seja, aqueles que deveriam estar defendendo a Rússia.
Não se compreende, e nem mesmo é realizado o esforço para se compreender, a importância da Ucrânia para a Rússia, os ataques sofridos pelo país por parte do imperialismo nas últimas décadas e nem mesmo quais foram as causas e consequências de todos esses fatores. É necessário, portanto, que se esclareça o que é um verdadeiro país imperialista e qual o nível de estrago que esse pode causar em outro país.
Artigos Relacionados
Manipulação das notícias
Militares nazistas
Ação é do Batalhão Azov
Operação especial
O desmembramento da URSS
No cenário turbulento da década de 1980, a burocracia stalinista na União Soviética ruiu após uma revolução política em 1991. As condições políticas da época permitiram que o imperialismo se aproveitasse da situação para dar o golpe final no que havia restado do gigantesco território formado pela URSS, desmembrando o país em 15 estados diferentes e os controlando por meio de fantoches políticos, como ocorreu na Ucrânia, na Bielorrússia, na Geórgia e mesmo na própria Rússia, onde ex-membros da burocracia, cada vez mais ligados ao imperialismo, tomaram o poder ─ como foi o caso do próprio presidente da recém-criada Federação Russa, Bóris Iéltsin.
Dentre as diversas ações do imperialismo em volta do que um dia havia sido a União Soviética, se destaca o fato de que a Ucrânia, mesmo após séculos sendo parte da Rússia, foi oficialmente separada e transformada em um país à parte.
Este foi apenas o primeiro passo dado para a situação em que a Ucrânia e a Rússia se encontram hoje. A Ucrânia se tornou o maior país da Europa após a própria Rússia, adquirindo uma importância inicial ainda maior para as intenções imperialistas dali para frente. Ela herdou a segunda maior infraestrutura da antiga URSS, contando com armamento nuclear (que teve de ser desativado uma vez que o país não tinha permissão do imperialismo para contar com tão poderosas armas), um dos maiores exércitos do mundo, regiões altamente industrializadas como o Donbass, uma população de cerca de 40 milhões de habitantes e recursos naturais importantíssimos como carvão e minério. Tudo isso foi arrancado da Rússia quase que num piscar de olhos.
O desmembramento da URSS foi sucedido por uma verdadeira operação de guerra por parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em direção à Rússia. Desde fins dos anos 90, a OTAN vem incorporando os antigos países-membros do finado Pacto de Varsóvia e, assim, cercando a Rússia. Os únicos países que hoje não pertencem à OTAN no Leste Europeu são Finlândia, Bielorrússia e Rússia. Mas a OTAN já faz fronteira com a Rússia no Báltico (Letônia e Estônia) e desde 2014 vem buscando incorporar a própria Ucrânia. Além disso, em 1999 a OTAN realizou intensos bombardeios à Sérvia durante dois meses, ligando o sinal de alerta para a Rússia, uma vez que, além de aliado histórico dos russos (devido ao alfabeto, religião e política), o antigo centro da Iugoslávia é caminho para a Federação Russa.
A revolução laranja de 2004
A dita “Revolução Laranja” foi outro passo do golpe continuado para garantir a dominação imperialista na Ucrânia. Fabricadas pelo Partido Democrata, pelo Partido Republicano, por ONGs norte-americanas e pelo Open Society Institute, de George Soros, as manifestações de 2004 no país receberam cerca de 14 milhões de dólares de financiamento norte-americano para contestar as eleições nacionais, as quais teriam levado o nacionalista simpático à Rússia Viktor Yanukovych ao poder, o que não aconteceu devido ao golpe e à manipulação de todas essas entidades imperialistas juntas. Viktor Yushchenko subiu ao poder e a “revolução” foi vitoriosa. Yanukovych chegou ao governo somente anos mais tarde, porém acabou sendo derrubado por um novo golpe de Estado.
O Euromaidan
O golpe de 2014, também conhecido como Euromaidan, foi propagandeado como mais uma revolução, um acontecimento que teria libertado a Ucrânia ─ nada mais longe da realidade. Com a recusa do então presidente Yanukovych de fazer com que o país entrasse na União Europeia, o financiamento norte-americano entrou mais uma vez em ação — dessa vez, grupos nazistas tomaram a frente do golpe, treinados e armados pelo imperialismo para derrubar o governo minimamente nacionalista. Isso, em conjunto com uma intensa campanha de propaganda ao redor do mundo, consolidou o golpe que iniciou os 8 anos de um regime controlado por nazistas capachos dos Estados Unidos, com interferência direta de diversas organizações imperialistas, como a própria OTAN, que organizou diversos exercícios e operações militares na Ucrânia.
Como visto, todas essas situações marcantes envolveram diretamente o imperialismo, sobretudo os Estados Unidos, como agente de desestabilização e devastação política, econômica e social da região. Milhões de ucranianos tiveram de deixar o país devido à pobreza, ao desemprego e à criminalidade que surgiram desses 30 anos de ataques do imperialismo. São verdadeiros exemplos do que um país imperialista pode fazer, quais são suas capacidades frente a algo que pode prejudicar seus interesses, e quais são suas atitudes frente a isso, desde impulsionar uma propaganda até financiar milícias nazistas e separar um país de outro.
É evidente que a Rússia não tem condições de realizar uma operação como essa que, diga-se de passagem, já dura cerca de 30 anos. Só quem pode fazer isso é um poder como é o imperialismo, e não uma potência regional como é a Rússia, mesmo em seu “quintal”. O que a Rússia pode fazer é, no máximo, enviar tropas como está fazendo agora, o que não é necessariamente uma ação imperialista, mas sim típica de um país sufocado pelo imperialismo que precisa reagir ─ como ocorreu com a invasão do Kuwait pelo Iraque de Saddam Hussein ou da Eslovênia pela Sérvia de Milosevic.
Esse é apenas um dos aspectos que prova que o argumento de que a Rússia seria um país imperialista é algo sem fundamento nenhum. Ele também prova que, no fim das contas, a Ucrânia é uma arma fundamental que o imperialismo precisa obter para poder atacar a Rússia e, portanto, a dominação imperialista na Ucrânia representa uma enorme ameaça ao país, colocando em risco sua soberania nacional e legitimando a necessidade de desnazificação da Ucrânia.