Antônio Carlos Silva, da direção nacional do PCO
A coordenação nacional do Movimento Fora Bolsonaro se reuniu no último dia 15 de março para debater a situação política e deliberar um novo calendário de mobilização. O encontro ocorreu cinco meses depois que a sequência de atos que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas de todo o País (e até no exterior) foi interrompida. As manifestações levaram o governo à lona e criaram as condições para o desenvolvimento de uma mobilização que podia até mesmo derrubá-lo.
A reunião se deu de forma bastante precária (online) e sem a participação dos principais dirigentes da maioria das organizações decisivas no movimento, como o PT e a CUT, apesar do enorme agravamento da situação com a intensificação da crise econômica e da política de toda a burguesia imperialista e “nacional” de conter a crise por meio da intensificação do sacrifício da imensa maioria da população com tarifação que elevou os combustíveis em até 25%, disparada da inflação, aumento exorbitante d taxa de juros etc.. O que só faz aumentar a crise política, acelerando as tendências a um enfrentamento das massas oprimidas com o regime direitista.
O desnorteamento após a sabotagem das mobilizações
O Movimento Fora Bolsonaro e toda a esquerda se vêem confrontados com uma situação em que o povo trabalhador está sendo empurrado para uma posição insustentável. Depois de mais de 655 mil mortes oficiais na pandemia (os números reais devem ser bem maiores), o País se vê cada vez mais próximo do caos total. O Brasil passa pelo maior retrocesso nas condições de vida da imensa maioria do povo, com estimativas de retração recorde do PIB, alta inflacionária, aumento da repressão e censura, etc.
Embalada pela crise internacional, a burguesia golpista e seu governo impulsionam uma nova ofensiva, que se vê facilitada, neste momento, pela política passiva da maioria dos setores da esquerda. Estes buscaram freneticamente, e ainda buscam, um entendimento, uma frente ampla, com a direita golpista.
Partidos como o PCdoB e o PSOL, bem como uma ala à direita dentro do PT, aliados a partidos da esquerda burguesa (PSB, PDT, PV, etc.) bloquearam a continuidade das grandes mobilizações pelo “fora Bolsonaro” em 2021. Os atos públicos forçaram o governo Bolsonaro e toda a direita a garantir vacinação em massa da população, a adotar medidas assistenciais parciais (como o retorno do miserável auxílio emergencial) e até mesmo contiveram (ainda que momentaneamente) medidas de ataque da direita como a privatização dos Correios (estacionada no Senado Federal) e a reforma administrativa contra os servidores e os serviços públicos (PEC 32), também com dificuldades de tramitação no Congresso.
As grandes mobilizações foram sabotadas, esvaziadas e substituídas por atos nas datas “oficiais” tradicionais do movimento, o 8 de Março, o 1º de Maio e o 20 de Novembro. Tudo isso porque os setores classistas (de forma mais consciente e organizada em torno do PCO, o Bloco Vermelho, setores do PT, da CUT, etc.) e amplas parcelas das bases da esquerda não se submeteram à política de conciliação. Rejeitaram, na prática, a presença da direita (MBL, PSDB, Ciro Gomes, entre outros inimigos do povo) nos atos da esquerda e, dessa forma, bloquearam a política de conciliação com os golpistas.
Derrotada a política de infiltrar a direita golpista nas manifestações e da frente ampla, a maioria das direções da esquerda burguesa e pequeno-burguesa que assumiu a dianteira do Movimento – de fato – pôs fim às manifestações. Os últimos atos públicos “oficiais” da luta pelo Fora Bolsonaro se deram no 20 de Novembro do ano passado e no 8 de Março deste ano. Foram um fiasco. Não foram convocados amplamente e deixaram de lado as reivindicações dos explorados diante do avanço da crise. Reuniram, na maioria dos casos, apenas os militantes da esquerda. Suas direções trouxeram para dentro das manifestações esvaziadas os representantes de partidos burgueses e organizações pelegas que apoiaram o golpe e são inimigas das lutas dos negros, mulheres, trabalhadores, etc., com claros intuitos eleitorais.
Como sair da arapuca?
Na reunião, boa parte dos dirigentes (destacadamente do PCdoB, o defensor número um da “frente ampla” com a direita) se esforçaram para se autoelogiar e celebrar os protestos esvaziados. No entanto, não seram conta de ocultar a crise em que se vê metida boa parte da esquerda. A ofensiva da direita no terreno econômico se expressa no terreno político em uma gigantesca manipulação e na tentativa de rearticular a burguesia para empurrar o candidato dos trabalhadores, o ex-presidente Lula, para fora da disputa política. Fazem parte dessa operação as manobras como a recomposição dos partidos (“troca-troca” de partidos, federações) e as articulações da direita tradicional em busca de uma candidatura da “terceira via” (que pode não ser nenhuma das que já estão colocadas), etc.
As direções da esquerda pequeno-burguesa ficaram um tanto quanto atordoadas e ainda se colocaram na posição de expectativa diante da iniciativa de setores da direita. Levaram boa parte da esquerda a alimentar a ilusão de que, por exemplo, a CPI da pandemia iria levar o País a se livrar da pandemia.
Neste quadro, a coordenação do Movimento reafirmou a tradicional data do 1º de Maio, com ato central em São Paulo (junto com “centrais sindicais” pelegas ligadas a partidos burgueses). A reunião aprovou também a realização de atos no dia 9 de abril, em todo o País, refletindo a preocupação de muitos setores de que o Movimento volte a sair às ruas.
Ficou evidente que uma parcela da esquerda que apoiou a paralisação da mobilização no ano passado (como setores petistas e militantes dos movimentos populares) já começam a se preocupar com o fato de que o abandono das ruas e as ilusões de que terão uma vitória fácil nas eleições dominadas pela direita, podem estar conduzindo (como realmente estão) muita gente por um caminho de derrotas e frustrações.
A reunião adotou apenas como uma data secundária (dentre outras), a constar do “calendário do movimento”, a proposta do PCO de realização de atos da esquerda no dia 31 de Março, quando a direita – uma vez mais – se prepara para comemorar o golpe de 1964 e fazer campanha pela ditadura atual.
Mesmo com o tarifaço, a alta da inflação e o declínio sem precedentes nas condições de vida da maioria da população estimulando uma tendência crescente de luta como se vê nas greves (professores e outros) e protestos (por moradia, contra os despejos, etc.) pelo País afora, a maioria da esquerda não entende que seja necessário impulsionar uma mobilização geral contra o regime.
Já é por demais evidente que a única possibilidade dos trabalhadores e da esquerda imporem a sua saída diante da crise é por meio da mobilização popular. Não haverá nenhuma possibilidade de vitória no terreno eleitoral para a esquerda de conjunto (não falamos aqui de pequenos e míseros ganhos de indivíduos ou grupos) que não seja obtida por meio de um enfrentamento e da derrota da direita nas ruas.
É preciso superar a paralisia, a crença – sem qualquer base real – no apoio de setores burgueses que estiveram contra Lula, o PT e a esquerda, no passado e que cada vez mais se bandeiam para a direita. É preciso deixar para trás (a pouco mais de seis meses das eleições) a ideia de realizar um movimento desconectado da defesa da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato dos trabalhadores e colocar-se distante da mobilização nas ruas por esse motivo fundamental: sem “Lula presidente” não há e nem pode haver um “fora Bolsonaro” de verdade.
É preciso levantar um programa com as reivindicações populares e de defesa dos direitos democráticos e sair às ruas já.
Dias 31 de março e 9 de abril, vamos às ruas contra os golpistas de ontem e hoje, por “fora Bolsonaro” e “Lula presidente”
O PCO vai organizar junto com o Bloco Vermelho manifestações no dia 31 de Março, contra a ditadura de ontem e de hoje. Nesse sentido, fazemos um chamado a toda esquerda classista, aos defensores dos direitos democráticos da população, aos setores classistas a se somarem a essa iniciativa.
Da mesma forma, chamamos a voltar às ruas nos atos do dia 9 de abril, buscando superar a política de desmoralização do movimento e de derrota da esquerda e da classe trabalhadora que levaram à sua paralisação e a avançarmos, juntos, na construção de milhares de Comitês de Luta, em defesa da candidatura de Lula, por um governo dos trabalhadores.