Paulo Donizetti de Souza | RBA
São Paulo – O pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, está na entrevista da semana com Juca Kfouri, na TVT. Diante do favoritismo de Haddad para vencer a eleição de outubro, Juca provoca se a tarefa de governar o Estado seria menos difícil do que governar a capital. Haddad concorda, e acrescenta: “É mais difícil ser prefeito de São Paulo do que ser presidente da República. Aliás, o Lula me falou isso, porque não estava mais na presidência e acompanhou a gestão”. O ex-prefeito, ex-ministro e candidato a presidente que recebeu 45% dos votos na eleição de 2018 pondera que São Paulo é a maior metrópole do continente. Portanto, tem concentração de contradições que o poder público tem de enfrentar.
“Mas na minha época era pior. Sabe quanto era a dívida de São Paulo? R$ 80 bilhões! Hoje, sabe quanto é? Zero. São Paulo não tem mais dívida. Eu liquidei 60% da dívida e o Campo de Marte liquidou os outros 40%. Acabou”, descreveu. O ex-prefeito admite que hoje continua difícil administrar São Paulo, mas as condições são muito diferentes. “Hoje a prefeitura de São Paulo só não faz porque não quer”, afirmou Haddad a Juca Kfouri. Ele observa que a administração paulistana dispõe de R$ 80 bilhões em caixa, “e a gente governava com R$ 5 bilhões”, e que por isso a atual gestão deixa muito a desejar.
Haddad é questionado pela presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ivone Silva, sobre como resolver dilemas da educação, da saúde, da industrialização. E também da transformação do Estado em um polo de tecnologia e criação de empregos. Depois de Juca dar um minuto e meio para a resposta, o pré-candidato brinca que a pergunta pede um programa de governo inteiro. Mas responde.
Educação, saúde, empregos
Na educação, menciona a experiência como ministro da área e cita o que pode ser reproduzido no estado. Na área da saúde, Haddad demonstra na entrevista ciência dos problemas de atendimento represados por conta da pandemia. “Foram represados procedimentos de consultas de especialidade, exames de imagem e cirurgias eletivas. Com tudo isso adiado, agora é preciso ter um planejamento para reduzir as filas de espera”, explica. E projeta, para o caso de uma gestão estadual, a experiência da Rede Hora Certa aplicada na rede municipal sob sua gestão, com a criação de 21 hospitais-dia. “Nós vamos ter de levar essa experiência para o interior e bairros da capital que ainda não têm. Porque é a única maneira que eu encontro, entre a UBS e o hospital geral, que estão sobrecarregados, de fazer a gestão da fila e reduzir o tempo de espera.”
“Verdade a nosso favor”
Na entrevista de quase uma hora, Fernando Haddad fala da fábrica de desinformação do bolsonarismo que operou em 2018. E acrescenta que essa indústria de fake news estará a pleno vapor em 2022. Comenta também sobre seu protagonismo na ideia de frente ampla contra o fascismo, que levou à tese da chapa Lula-Alckmin – ideia lançada no ano passado. Além disso, responde à pergunta da jornalista Larissa Bohrer, da Rádio Brasil Atual, sobre como fazer frente ao pensamento único da mídia hegemônica e também à indústria paralela de fake news. “Como construir uma forma de comunicação mais acessível, inclusiva e diversa?”
Para Haddad, o campo progressista está mais preparado para atuar nas rede sociais. “A verdade está a nosso favor”, diz, admitindo, porém, que falta “ainda o domínio da técnica para esterilizar as fake news
”. E diz saber que é preciso estar preparado não só para a informação falsa que é produzida agora, há menos de seis meses da eleição. Mas principalmente para as fake news que vão aparecer “como um raio” a 15 dias da eleição.A professora Maria Victoria Benevides, que participa da entrevista com Haddad, demonstrou preocupação com a educação durante e depois da pandemia. E nas consequências dos pós-covid, tanto na formação dos estudantes, quanto no impacto desse problema no futuro. “Gostaria de saber como Fernando Haddad indicaria caminhos para impedir que os nossos alunos das escolas públicas sejam identificados como a geração covid, e carreguem esse estigma de exclusão. Muito triste isso!”. O entrevistado elogiou a lucidez da historiadora citando a necessidade de respeito ao magistério e à realidade das famílias desses estudantes. Desse modo, antecipou que é preciso blindar o setor de pessoas inescrupulosas. “Nunca enfrentamos realidade igual na história do Brasil.”