Os Cavalos da Alba

Poeta palmarino Cicero Melo, falecido em 2021, em Recife. Foto: Reprodução.

Cicero Melo

Eu, guerreiro de um deus aqui banido,

Nesta cela de sonhos acidulada

Combato os dias vãos com rubra espada,

Cavalgando corcéis de aceso olvido.

 

Renasço sempre ao sul da madrugada

Meus cavalos de luz de um sol partido,

Quando a noite decai sem um gemido

Forjando do inimigo a face alada.

 

Guerreio sempre ao claro a fera esquiva,

Aquela cuja garra a morte imana

Em sal e sangue, sândalo e saliva.

 

Mas é de acontecer, enquanto se ama,

Que, guerreiro, me quede a adaga ativa,

Quando vibrante o coração me inflama.

 

(De “O Verbo Sitiado” – “Pequena Antologia Poética”)

 

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“Cicero Melo, a generosidade de publicar, nas redes sociais, poetas menos conhecidos”

Os poetas de Pernambuco Virgínia Leal e José Luiz Melo escreveram sobre o poeta palmarino Cicero Melo: “Poeta dos, bons, foi um grande aventureiro no reino das palavras e das imagens, virando-as pelo avesso:

“LIBITINA
Morrer é um descanso.
Sair da vida, um horror!”
O traço de generosidade que o caracterizava enquanto poeta deve ser enaltecido, pois não é comum aos poetas divulgarem criações poéticas além de suas próprias ou, no máximo, de nomes consagrados ou já falecidos, caso de Jorge de Lima, mas também o fazia com iniciantes, menos conhecidos.
Diversos poemas foram levados a sua página, com propostas bem interessantes de ilustração, em geral situadas no campo da fotografia: Lourdes Nicácio, Iremar Marinho, Ângelo Monteiro, Lourdes Sarmento, Zé de Lara, João Francisco Lima Santos, Valmir Jordão…. Foram tantas e tantos que seria extenso demais enumerá-los.
“Não bastasse a generosidade de divulgar em sua página, nessa rede social (Facebook), poemas de poetas que admirava, fossem famosos ou iniciantes, Cícero Melo dedicou a alguns deles poemas como este “Canção da amiga”, escrito para a poeta luso-brasileira Maria de Lourdes Hortas. Aliás, uma das poetas preferidas em sua página – geralmente dividida entre postagens de cunho político, poemas de sua autoria, já publicados ou inéditos; e poemas de outros poetas, sempre possibilitando com novas imagens ilustrativas um interessante diálogo intersemiótico.
Eis o poema dedicado à Maria de Lourdes Hortas:
CANÇÃO DA AMIGA
Ninguém mais.
Só a tua fala.
À medida que a noite
vai te amando
(e te ama tudo,
o chapéu molhado,
o gato,
o verbo descalço,
o sapato tosado
a paisagem alada)
Estou te vendo
ó, Maria
ó, Lourdes
ó, Hortas,
vestida de aldeias!
                                 (I.M.)
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