USINA TOMBADA

 

IREMAR MARINHO

Máquinas paradas no meio do canavial
Usina Laginha cozinhando o saldo
Da sua falência

O caldo da ferrugem
Escoando no rio sua inclemência

Águas do Mundaú levando as turbinas
Lavando infâmias do latifúndio

Fantasmas movendo guindastes
Na treva da fuligem

Moendas triturando a contabilidade
Da acumulação de lucros
Da safra de desigualdades

Plantação dos sem emprego esperando
Debalde a paga de seus dias
Levados no eito

Eram mentiras o fogo aceso das caldeiras
A fumaça de ilusões
Surdo o matraquear das esteiras de canas

Falso encanto a melodia do apito chamando
À produção da mais valia
Aguardada no porão dos navios
De Europa e outros quintos do mundo

Era amargo o mel da usina
Muito além do puro açúcar

 

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