Identitarismo, ao negar luta de classes, prorroga Tragédia do BolsoNazismo

 

Iremar Marinho 

Se o desastre político, social e econômico, em que o Brasil está mergulhado, não for contido a tempo, a consequência é (óbvia), à semelhança do câncer fulminante, essa doença entrar em processo de metástase e matar a civilização que vinha sendo cultivada, a duras penas, desde que a Ditadura Militar, de 21 anos, foi substituída, em tese, pela ordem democrática da Constituição de 1988.

A tendência é, para perder só os dedos, o fuhrer Bolsonaro, sustentado pelo sistema judicial-militar-parlamentar-midiático, se acomodar à estratégia da direita para promover o isolamento dos “extremos”, desde que isto signifique afastar o PT e outros partidos de esquerda do protagonismo político nacional.

Conter o sistema avassalador de destruição do país não é tarefa de responsabilidade de mais ninguém, a não ser do povo brasileiro, como foi dos povos, em todo o mundo e em todas as dimensões históricas e geográficas. Então, esperar o quê?  Que caiam dos céus magníficos salvadores?

Do Partido dos Trabalhadores, dos demais partidos de esquerda, das instituições da sociedade civil e dos movimentos sociais deverá ser cobrada a fatura muito alta da falta de empenho e de luta por ações e estratégias cirúrgicas enérgicas contra a Tragédia Bolsonaro e sua perpetuação. É que cabe a estes entes políticos e sociais, e somente a eles, a prerrogativa de mobilizar a sociedade, em busca de suas afirmações e até de sua revolução popular, no processo mais à frente, da evolução política e social do povo  brasileiro.

O primeiro entrave a ser removido talvez seja o engodo das chamadas pautas identitárias, produtos nefastos de segmentos sociais e políticos que se encastelam no argumento simplista e confuso, segundo o qual democracia significa apenas cada cidadão pensar e fazer o que quiser e “estamos conversados”. Em democracia, ou se debate em torno da unificação de pensamentos e de lutas, ou se cai na fábula dos dois burro atados à mesma corda, cada um puxando para o lado oposto ao outro. Não comerão capim nenhum.

Mulheres, negros, LGBTs, professores, estudantes, sem-teto, sem-terra, indígenas e mesmo entidades de classe de trabalhadores, enquanto defensores de suas lutas específicas, não são segmentos diferenciados da classe social trabalhadora e da sociedade, excluídas do processo capitalista, que trocam a força de trabalho pelo salário, jamais aproveitando os benefícios de sua própria produção.

Identitarismo significa colocarem-se os trabalhadores e a sociedade em posição de agachamento diante do sistema governamental-capitalista, ao qual imploram que atenda às demandas, que providencie os itens reivindicados, que promova alguma reforma. Ou seja, identitários se reconhecem não-donos do que reivindicam, mas apenas dignos das migalhas e dos favores pelos quais imploram aos governantes e parlamentos inalcançáveis.

Enfim, ser identitarista, além de negacionista da luta de classes, significa abdicar da luta pela revolução popular para mudar a realidade política, social e econômica perversa; significa depender do processo legislativo, normalmente hostil, como arma para conseguir afirmação de lutas especificas, não raro de objetivos divergentes.

A cada dia é mais claro, – e sempre ficou claro, nas lutas políticas e sociais, em todo mundo,-  que interesses de “minorias” não fazem parte dos interesses da burguesia (os capitalistas). O mercado, o lucro, o “mérito”, o trabalhador domesticado, com baixos salários e menos direitos, a automatização, a produção sem trabalhador, estes sim são interesses do capitalismo.

Rechaçar o identitarismo significaria então negar a diversidade social e cultural? Jamais! Unificar as diversidades numa pauta ampla de classe corresponde a fortalecer a luta geral do povo pelas mudanças de estruturas, que, se não forem implementadas por iniciativa do próprio povo, de outro modo não serão.

Importante registrar o número considerável mulheres, negros e LGBTs que sairam vitoriosos, nas eleições municipais de 2020, a maioria concorrendo por partidos de esquerda. Se estas vitórias significarem um passo para unificação de lutas populares, nos parlamentos e executivos municipais, a sociedade brasileira estará no caminho certo para redirecionar o identitarismo e reconhecer que, sem luta de classe, o Brasil estará sempre emparedado no reformismo, instrumento da burguesa capitalista para barrar a via revolucionária.

Insistir, portanto, no protagonismo da sociedade, via democracia direta, unificando as pautas sociais, hoje meramente identitárias e dispersas, é tarefa para ser abraçada pelos segmentos mais amplos da população, tirando-se lições do funcionamento desse mecanismo político (constitucional, no Brasil), já tradicional em países de “primeiro mundo”, e também adotado, recentemente, pelo povo, em países da América Latina, para barrar investidas políticas fascistas e trágicas.

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