O candidato da coligação de esquerda Apruebo Dignidad, Gabriel Boric, venceu de forma clara a segunda volta das eleições presidenciais no Chile, celebradas domingo (19), tendo obtido mais de 4,6 milhões de votos (55,87%) e deixando a 11,74% de distância o seu rival de extrema-direita, José Antonio Kast, da Frente Social Cristiano (3,6 milhões de votos).
De acordo com o Serviço Eleitoral do Chile (Servel), mais de 8,3 milhões de chilenos participaram nesta segunda volta das presidenciais, representando 55% dos eleitores inscritos e um nível de participação bastante elevado para os padrões chilenos.
Ao discursar para uma multidão reunida em Santiago, o ex-dirigente estudantil afirmou que «estamos perante uma mudança de ciclo e não a podemos desaproveitar».
Lembrando que o triunfo de domingo está ligado às lutas das camadas populares, Boric, de 35 anos, disse sentir-se «herdeiro de um trajeto histórico», daqueles que procuraram «justiça, defesa dos direitos humanos e as liberdades», refere a TeleSur.
Prometeu defender o processo constituinte, «motivo de orgulho porque pela primeira vez se está a escrever uma Carta Magna de forma democrática e paritária, e com a participação dos povos indígenas», disse, em alusão à redação da nova Constituição do país, para substituir a que esteve vigente desde a ditadura de Pinochet (1973-1990).
Entre as prioridades do seu governo, apontou a reforma do atual sistema de pensões, a concretização de um serviço universal de saúde e uma melhor distribuição da riqueza.
Combater a desigualdade social, enfrentar o problema da habitação, dar mais força à educação pública, aumentar os salários e defender o ambiente são também prioridades que figuram na sua agenda, indica a Prensa Latina.
Num apelo à unidade, Gabriel Boric afirmou que será o presidente de todos os chilenos, mas deixou claro que irá procurar «verdade, justiça e reparação» para as vítimas de abusos no país, porque «não podemos ter um presidente que declare guerra ao seu próprio povo», referindo-se à repressão do governo de Piñera sobre as revoltas de 2019.
«Hoje, a esperança venceu as campanhas do medo», afirmou o jovem presidente chileno, que alertou para «tempos que não serão fáceis» e prometeu avançar «com responsabilidade».
Nas urnas como nas ruas, a «mudança de ciclo» ocorreu. Nas cidades do país austral, milhares festejaram a vitória de um candidato e a derrota de um sistema. Agora, resta ver a mudança por que os chilenos tanto lutaram concretizada na ação governativa.