Por que a esquerda cai no golpe de Alckmin vice?

Para todos os fins, Alckmin é um ótimo vice para Lula, do ponto de vista dos capitalistas: não tem força, não tem importância política na atual circunstância e racha a base do PT
Geraldo Alckmin: um dos principais inimigos do PT durante o golpe em 2016 – Evaristo Sá/AFP

A possibilidade de Alckmin como vice de Lula incomodou muitos petistas, mas a repulsa não foi unanimidade. Aparentemente, os dirigentes do PT acham que Alckmin é uma boa opção e abrirá portas para o Partido dos Trabalhadores com a burguesia, a fim de garantir sua eleição e governabilidade. A jogada seria simples: Lula faria o que sempre fez, arrumaria um vice e um time que agrade a burguesia para que possa comer pelas beiradas e conseguir emplacar algumas reformas sociais tímidas.

Mas não estamos mais em 2002, o país sofreu um golpe para depor a presidenta petista, Dilma Rousseff, e não houve acordo que a segurasse em Brasília. Essa burguesia agora estaria disposta a conversar com o PT e o deixaria voltar para a presidência assim após 6 anos? Para que teria dado o golpe, e mais importante, prendido Lula para que este não vencesse em 2018?

Os petistas que apoiam a candidatura de Alckmin estão na ilusão de que a burguesia estaria farta de Bolsonaro e abandonou a ideia de eleger um candidato próprio. Os capitalistas nem estão fartos de Bolsonaro nem abandonaram a ideia de ter um candidato da terceira via, e muito menos estão dispostos a deixar o PT voltar a governar. Primeiro tentarão pela terceira via, depois por Bolsonaro, e, se tudo der errado e tiverem de aceitar Lula, irão fraudar seu governo. Golpe eleitoral, golpe militar, golpe institucional, seja o que for, tudo será feito para impedir que Lula vença e assuma a presidência. Alckmin é um agente para esse golpe, da mesma forma que Temer foi para o de 2016.

Outro fator que deve ser compreendido também é que, assim como a situação não é a mesma de 2002, Alckmin também não é o mesmo que era antes do golpe. Tanto o ex-governador de São Paulo, quanto o PSDB, foram muito prejudicados pelo golpe que eles mesmos deram.

Porque o imperialismo teve de fazer uso de um movimento de tipo fascista para dar o golpe. Esse movimento já vinha se desenvolvendo na esteira da crise econômica reflexo de 2008. A luta de classes, desde então, a nível mundial, se acirrou e se polarizou. De um lado, os trabalhadores, mal representados pelos partidos tradicionais da esquerda. De outro, a burguesia que via na necessidade de implantar um regime de força contra esses trabalhadores para poder salvar os lucros dos banqueiros. Sua base social, a classe média empobrecida com a crise, a pequena burguesia conservadora e setores mais atrasados do proletariado. A esquerda não mobilizou os trabalhadores a tempo de evitar o golpe dado pelo Congresso, pelo Judiciário, pelos militares e a imprensa, que teve nos coxinhatos a sua face “popular”. Bolsonaro surfou nessa onda e a base descontrolada que serviu ao golpe se deslocou dos partidos tradicionais da direita, como o PSDB, para o bolsonarismo. Por isso Bolsonaro ainda tem certo apoio popular, enquanto o Centrão se esvaziou. Essa é uma das consequências naturais da polarização política: o esvaziamento do centro como espectro político com alguma base social.

Alckmin perdeu o PSDB em São Paulo para Doria, que acompanhou a onda bolsonarista, de modo oportunista. Hoje o então todo-poderoso governador do Estado mais importante do país não passa de um cadáver político, um peso morto. Alckmin, embora seja um homem de confiança da burguesia, não tem, neste momento, nenhuma parcela significativa da burguesia por trás dele porque não tem o que oferecer a ela. É uma sombra da burguesia, fazer acordo com ele não significa ter o apoio da burguesia.

Nesse sentido, a única capacidade de Alckmin é desmoralizar a candidatura de Lula, pois não atrai uma base social, não fecha acordo com a burguesia, e indispõe a parcela mais à esquerda que está apoiando Lula, bem como os milhões de trabalhadores que sofreram nas mãos de Alckmin e do PSDB, tanto a nível estadual de São Paulo como a nível nacional.

No cenário em que Lula vence, Alckmin ganharia vida novamente, a burguesia voltaria a apoiá-lo em troca de seus serviços internos no governo de Lula ─ esse apoio seria específico, para minar o governo Lula, e não para apoiar um governo que Alckmin compõe. O país já teve uma experiência negativamente exemplar com um vice da direita num governo da esquerda. O golpe de Temer é recente demais para que a população possa esquecer o acontecimento.

Para todos os fins, Alckmin é um ótimo vice para Lula, do ponto de vista dos capitalistas: não tem força, não tem importância política na atual circunstância, racha a base do PT, e caso todos os planos de impedir uma vitória de Lula fracassem, ainda terão uma última cartada a ser jogada, sendo Geraldo Alckmin o vice de Lula para golpear seu governo por dentro.

Redação do DCO – Diário da Causa Operária
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