A praça *

Gonzaga Leão, o poeta palmarino e seu lirismo engajado contra os Anos de Chumbo da ditadura militar.

Gonzaga Leão

 

Não te chamo a passeio pela praça

porque a praça morreu e está cercada

de muros. Há estranhos operários

trabalhando: em lugar de pá e enxada

 

usam feios fuzis e sabres sujos.

E as árvores da praça assassinada

já não podem dar flor nem dar mais fruto

nem mesmo a sombra amiga e desejada.

 

Por isso não te chamo para a praça

com este céu de manhã quase noturno

e operários estranhos e fardados.

 

Peço-te apenas que me dês a mão

e juntos amassemos nosso pão

que se é feito de amor não sai amargo.

 

(Do livro “Preparação da Manhã” – Edições Catavento – 2005)

Neste livro, como prefácio, Gonzaga Leão publica o “Esclarecimento” seguinte:

“Os poemas deste livro são uma seleção dos que foram escritos entre 1960 e 991. Todos, de certo modo, circunstanciais. Daí, cada um deles com sua data de criação. Sem, entretanto, pretender com isso contar o autor a história desse período, mas apenas dizer que foi dele um atento espectador”.

* Soneto composto em julho de 1964, quando da visita aos amigos presos, na Velha Penitenciária de Maceió, demolida para ceder lugar a uma feira de camelôs.

******

Gonzaga Leão

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Luiz Gonzaga Leão[1] [2](União dos Palmares, 5 de junho de 1929 – Maceió, 28 de maio de 2018), mais conhecido como Gonzaga Leão, formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Alagoas e atuou como funcionário do Banco do Brasil.
Na literatura, tem diversos livros de poemas publicados e sua obra foi reconhecida por escritores como Carlos Drummond de Andrade e Carlos Moliterno. Muitos de seus poemas retratam/delatam o período da Ditadura Militar no Brasil.
Gonzaga Leão é membro da Academia Alagoana de Letras[3] e da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro. É autor de grandes livros, um deles foi publicado no ano de 2012: “Tijolo Sobre Tijolo Palavra Sobre Palavra”, pela Imprensa oficial Graciliano Ramos.

Esse grande autor já tinha o habito de produzir uma poesia de forma compreensível, dado que os conceitos de sua forma poética encantam por seus traços singelos e profundos.

Gonzaga Leão era apaixonado pelo mar, um dos temas recorrentes na sua poesia, assim como a casa, como metáfora do ser e sua relação com o mundo. Sua obra também se debruçou sobre temas políticos, críticos da Ditadura Militar instaurada no Brasil, a partir de 1964. Um de seus irmãos foi morto pelo regime.

No livro “Tijolo Sobre Tijolo Palavra Sobre Palavra” há uma poesia chamada Epitáfio, em tom autobiográfico, reveladora de sua verve lírica: “Eis aqui um poeta que descansa/como descansa um barco no seu porto./Ele finge que dorme e, mais, que sonha/ou simplesmente ele se faz de morto”.

Obras

  • A Rosa Acontecida (1957);
  • Mar de Encanto (1957);
  • Casa Somente Canto Casa Somente Palavra (1986);
  • Preparação da Manhã, (2005)
  • Tijolo e Palavra (2012)[4]

Referências

  1.  Iremar Marinho, “[1]“, Repórter Alagoas, 31 de março de 2014
  2.  , Imprensa Oficial do Senado, “[2]“, Senado Federal, 02 de abril de 2012
  3.  Academia Alagoana de Letras, “[3]“, AAL, 12 de agosto de 2013
  4.  Ascom, “[4]“, Imprensa Oficial, 11 de dezembro de 2012 
Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp