Gonzaga Leão
Não te chamo a passeio pela praça
porque a praça morreu e está cercada
de muros. Há estranhos operários
trabalhando: em lugar de pá e enxada
usam feios fuzis e sabres sujos.
E as árvores da praça assassinada
já não podem dar flor nem dar mais fruto
nem mesmo a sombra amiga e desejada.
Por isso não te chamo para a praça
com este céu de manhã quase noturno
e operários estranhos e fardados.
Peço-te apenas que me dês a mão
e juntos amassemos nosso pão
que se é feito de amor não sai amargo.
(Do livro “Preparação da Manhã” – Edições Catavento – 2005)
Neste livro, como prefácio, Gonzaga Leão publica o “Esclarecimento” seguinte:
“Os poemas deste livro são uma seleção dos que foram escritos entre 1960 e 991. Todos, de certo modo, circunstanciais. Daí, cada um deles com sua data de criação. Sem, entretanto, pretender com isso contar o autor a história desse período, mas apenas dizer que foi dele um atento espectador”.
* Soneto composto em julho de 1964, quando da visita aos amigos presos, na Velha Penitenciária de Maceió, demolida para ceder lugar a uma feira de camelôs.
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Gonzaga Leão
Esse grande autor já tinha o habito de produzir uma poesia de forma compreensível, dado que os conceitos de sua forma poética encantam por seus traços singelos e profundos.
Gonzaga Leão era apaixonado pelo mar, um dos temas recorrentes na sua poesia, assim como a casa, como metáfora do ser e sua relação com o mundo. Sua obra também se debruçou sobre temas políticos, críticos da Ditadura Militar instaurada no Brasil, a partir de 1964. Um de seus irmãos foi morto pelo regime.
No livro “Tijolo Sobre Tijolo Palavra Sobre Palavra” há uma poesia chamada Epitáfio, em tom autobiográfico, reveladora de sua verve lírica: “Eis aqui um poeta que descansa/como descansa um barco no seu porto./Ele finge que dorme e, mais, que sonha/ou simplesmente ele se faz de morto”.
Obras
- A Rosa Acontecida (1957);
- Mar de Encanto (1957);
- Casa Somente Canto Casa Somente Palavra (1986);
- Preparação da Manhã, (2005)
- Tijolo e Palavra (2012)[4]