IREMAR MARINHO
A polêmica gerada pela Cadeira Gigante instalada na orla marítima de Maceió acende a eterna discussão sobre o decantado destino turístico da capital. Mas a cidade vai permanecer apenas como atrativo para turista ver, ou o poder público precisa olhar e atuar para modificar a paisagem humana e urbana de sua geografia de grotas, que só fazem aumentar a cada dia?
Sentar e se “instagramar” na Cadeira Gigante da orla, admirar as inúmeras placas-monumentos de “Eu Amo Maceió” são também formas de tapar com a peneira a sub existência de mais de 100 grotas, que até se evita chamar de favelas, mas estão lá, para qualquer direção que se olhe, ao lado até dos bairros chamados “nobres”, com sua falta de saneamento, suas moradias precárias, seu desemprego, sua fome e sua violência.
A proliferação de favelas, em Maceió, originada no desmonte parcial do sistema sucroalcooleiro alagoano, que só fez aumentar ainda mais o fosso da desigualdade social, não teve alternativa de solução pelos governantes, senão o aumento da repressão das comunidades alijadas do processo. As medidas de segurança pública são sempre lançadas e comemoradas como sinal de civilização, quando, em verdade, são estratégias para manter os rejeitados da sociedade a uma distância segura.
Em Maceió há até favelas coloridas, paredes, muros e escadarias “artísticas” foram lançadas como importante conquista urbana para a capital, como se “em preto e branco” a miséria ficasse visível demais. Falta conteúdo, falta estofo nas medidas governamentais para atender aos favelados em suas necessidades essenciais.
É bem verdade que o sistema econômico-financeiro não tem solução para a miséria, seja em Maceió ou em qualquer parte do mundo. Ou se para de mentir para essas populações marginalizadas e se diz a elas que não há soluções, ou se luta para modificar e até revolucionar o sistema injusto de divisão da renda per capita nacional.
Estudos demonstram que o Brasil, com a renda per capita que tem, deveria ter 10% de pobres na população, mas tem mais de 30%, e o fosso vai aumentando, a cada medida que os governos adotam, como forma de manter intocada a alta concentração de rendas e de riquezas da minoritária classe dominante.
E Maceió (e Alagoas), vai continuar sentada na Cadeira Gigante, enquanto os poderes se omitem ou acenam com paliativos para a miséria da maioria de sua população, e a classe política dá prioridade à escolha dos nomes que precisam ganhar as próximas eleições?
“Instagramar” a miséria parece ser mesmo a melhor estratégia política para a classe dominante assegurar a perpetuação do seu mando eterno, em Maceió e nas Alagoas.