Deborah Freire / Secom Maceió
Quem conhece a história de Jaraguá sabe que ela se inicia pelo comércio. Porto natural de Maceió, desde antes da construção do cais, o bairro surgiu e se desenvolveu a partir da movimentação de importadores e exportadores. E, em paralelo, foram aparecendo os bares e também os prostíbulos, ou boates, como eram chamados.
O bairro comercial e boêmio ganhou então uma rua conhecida como “Beco da Rapariga”, que fica entre os prédios onde funcionaram as boates Alhambra e Tabariz, na esquina com a Rua Sá e Albuquerque e acesso à Rua Barão de Jaraguá. E é nesse beco que a Prefeitura Municipal inicia uma revitalização e intervenção urbanística que irá recontar a história do local aos moradores e visitantes, além de estimular o movimento de pessoas e atrair investimentos.
“A proposta é uma revitalização que preserve esse patrimônio histórico, sem interferir na arquitetura do local, que respeite a história do bairro, e que visa garantir maior fluxo de visitantes, e eles entendam a importância do local. Queremos também garantir que essas intervenções sejam replicadas de formas diferentes nos outros becos e, com isso, a gente possa atrair mais investimentos para o lugar, principalmente no aspecto comercial, que é a característica primordial de Jaraguá desde o seu surgimento”, explica Fábio Palmeira, gerente da Zeladoria Municipal de Maceió.
O Beco vai receber novo piso de intertravados, um portão cênico, luzes cênicas, pergolado com flores, um chafariz, vasos de planta, grama, bancos em madeira e metal e pintura nas paredes dos imóveis. A obra já foi iniciada e a previsão de conclusão é de 60 dias.
Preservação do patrimônio arquitetônico
Quem está entusiasmado com a novidade é o escritor e historiador Carlito Lima. Ele gosta de contar uma lenda sobre Jaraguá de que as “raparigas” foram expulsas do bairro depois que esposa do secretário de Segurança Pública de Alagoas passou por lá, às seis da manhã, e viu a cena de “um boêmio retardatário” fazendo xixi no meio-fio da calçada.
Se é ou não verdade, ninguém sabe, mas o fato é que o secretário, coronel Adauto Barbosa, em 1969, ordenou o fechamento das boates de Jaraguá, e assim, elas foram transferidas para bairros da parte alta.
Carlito Lima conta que com a saída dos prostíbulos, alguns prédios começaram a ser derrubados, até que um grupo de intelectuais batalhou junto ao governo para tombar o bairro, e hoje ninguém pode alterar ou destruir as fachadas dos imóveis.
“Minha teoria é que as prostitutas passaram 70 anos no lugar e conservaram involuntariamente o nosso patrimônio arquitetônico. E aí, nós [um grupo de intelectuais alagoanos] quisemos fazer uma homenagem e fizemos uma placa para colocar no beco. A placa ‘Rapariga Desconhecida’. Era o beco mais movimentado da região, entre as duas boates mais famosas, a Alhambra e a Tabariz, bem defronte à Associação Comercial. O pessoal dizia ‘vamos nos encontrar no Beco da Rapariga” e ficou. Quem inventou não sei, mas pegou”, lembra.
O escritor destaca que Jaraguá era o coração da cidade e foi por causa dele que Maceió se tornou mais desenvolvida que a antiga capital, Marechal Deodoro. “Eu acho essa intervenção muito importante. Jaraguá era um bairro boêmio, é uma homenagem à boemia da década de 1920. Eu acho muito boa essa iniciativa”, diz.