(Artigo republicado)
José Maria Oliveira
Ver a imagem de Santa Maria Madalena nos jornais anunciando a homenagem que lhe prestam os palmarinos visitantes, a cada início do ano, faz-me lembrar sempre, à chegada de União, ali pelos Macacos. A visão emocionante, ao mesmo tempo alegre, de um panorama que, hoje, muita gente desejaria ter assistido, e não teve o privilégio: a torre encimada por uma cruz, toda iluminada. Deslumbrante, marcava o ponto de chegada à terrinha querida.
Esquecer? Nunca mais! Depois de passar por Branquinha, sacolejante, ansiosa, a Maria Fumaça adentrava às terras da Usina Laginha, margeando o Rio Mundaú, nos primeiros luminares, ali por Canabrava. Bom demais! Muita gente, de geração posterior, poderá estranhar os meus arroubos juvenis. Mas, o que é “que vou fazer”? – Era assim mesmo. Vir a Maceió, naquela época, era questão de tempo. Resolvidos os problemas e compras feitas, era ir pra estação, pegar o trem (que já estava esperando), se possível ficar ao lado de alguém conhecido, falando das novidades da Capital, e ouvir o tranquilo resfolegar da máquina, danada pra União!
Bem… O que eu quero é falar da Matriz de Santa Maria Madalena. Onde está a imponente igreja, a Matriz? O que fizeram de sua Casa, Mãe Santíssima! Onde está a bravura dos quilombos? Certeza eu tenho de que o monsenhor Clóvis, lá em cima, não deve ter gostado do acontecido. De que vale toda a história da matriz, se nem a senhora respeitaram. Sei que muitos não vão gostar do que está escrito nesta crônica. E daí?
A verdade é que jogaram por terra missas, terços, casamentos, novenas, milagres, batizados, promessas e confissões. Mensagens e lições cristãs do monsenhor Clóvis Duarte. Até do nosso querido padre Terto, hoje cônego Tertuliano. Onde ficaram os cânticos do belo coral, que tinha entre outras vozes a de Detinha, Diná, Zé Wanderley, Maria José, Madalena… De que valeu o mausoléu do monsenhor Clóvis. Não foi somente incompetência herética. Também falta de respeito! Onde o badalar dos grandes sinos, no chamamento às missas, à hora da Ave-Maria. Tudo foi ignorado para gáudio dos fariseus de plantão.
Podem andar por toda Alagoas. Em nenhuma cidade ou distrito. Nem numa recôndita vila se cogitou destruir qualquer capela, imaginem uma Matriz do porte da de Santa Maria Madalena. Meu pressentimento foi de que ela chorou, depois de tantos anos protegendo a cidade e seu povo. Talvez perguntem por que esse desabafo agora. É que em ficando mais velho, sobra-me tempo para lembranças da União dos meu tempo. Provinciana, mas aconchegante. No tempo em que as autoridades, filhos da Terra, olhavam com mais respeito os costumes, as tradições, enfim a cultura palmaria. Amava-se União, e não o que ela podia oferecer para proveito próprio.
Da igreja nos lembramos das duas entradas em degraus, avarandadas; o adro, em colunas seguras, e adentrando à nave, os altares trabalhados, que secundavam o altar-mor, reservado à luminosidade da imagem de Santa Maria Madalena. Tudo aos cuidados de Seo Benvenuto, o sacristão de muitas gerações. É, Santa Maria Madalena. Só à Senhora peço perdão pelo desabafo. Só ela pode me excomungar. Na passagem de mais uma festa, o calendário, de modo simplório, registra, sem aquele fervor das grandes festas de Alagoas e do Brasil. A culpa não é dos fiéis nem dos devotos. União é que perdeu o trem… e está perdendo a História.
- Não foi possível identificar o jornal e a data em que esta crônica foi, originalmente, publicada.