Garimpo ilegal destruiu mais de 600 quilômetros de rios em territórios indígenas, no Pará

Retrato da destruição ambiental pelo garimpo ilegal no Pará.
Retrato da destruição ambiental pelo garimpo ilegal no Pará.

O nível de destruição é equivalente àquele que a Vale infringiu ao Rio Doce na tragédia de Mariana (MG) – que impactou diretamente 663 quilômetros de rios – e é como se mais da metade do rio Tietê, que tem 1.136 quilômetros, tivesse sido irremediavelmente devastada. As imagens são chocantes, assista e saiba mais com o vídeo que preparamos para você

Esta é uma grande denúncia de crime ambiental, que foi realizada graças a um monitoramento inédito feito pelo Greenpeace Brasil, e que também já está formalizada, no Ministério Público Federal. Além do prejuízo ambiental e de impedir o uso dessas águas para necessidades vitais do povo, como a pesca, a contaminação desses rios causa também um enorme prejuízo cultural aos Munduruku, prejudicando seus laços culturais com o ambiente e negando seu direito de ser e existir.

A luta dos povos indígenas é uma luta pela vida

É inadmissível que o descaso de nossos governantes seja a resposta para quem resiste e protege há séculos nossas florestas e toda a biodiversidade. O ritmo da destruição causada pelo garimpo ilegal explodiu no Brasil. Apenas nas terras indígenas Munduruku e Sai Cinza, no sudoeste do Pará, os criminosos devastaram pelo menos 632 quilômetros de rios desde 2016. O aumento foi superior a impressionantes 2000% em 5 anos, de acordo com levantamento inédito do Greenpeace revelado com exclusividade pelo Observatório da Mineração em parceria com o UOL.

A extensão do dano, confirmado com sobrevoos realizados em outubro de 2021 e por imagens via satélite, é equivalente ao que a Vale causou no Rio Doce em virtude do rompimento da barragem de Mariana, em novembro de 2015. Foram cerca de 660km de rios contaminados de Minas Gerais até o mar do Espírito Santo. Os corpos d’água mais prejudicados pela atividade garimpeira analisados pelo Greenpeace são os rios Marupá, das Tropas, Cabitutu e os igarapés Mutum e Joari. O sobrevoo também identificou pelo menos 12 pistas de pouso usadas por garimpeiros.

Ataques aumentaram em 2021

A região de Itaituba e Jacareacanga, no Médio Tapajós, é o epicentro do ouro ilegal no Brasil. E os indígenas enfrentam ataques constantes de garimpeiros. Em 2021, a situação piorou.

Em abril, o Ministério Público Federal do Pará pediu intervenção federal após uma série de atos violentos, incluindo o incêndio criminoso da casa de uma liderança indígena e a destruição da sede de uma associação de mulheres Munduruku, que lutam há anos contra os invasores.

Em maio e em junho, a justiça federal precisou exigir que o governo federal ordenasse o retorno de forças de segurança para a região para tentar proteger os indígenas. Em julho, o MPF pediu a suspensão de todas as permissões para extração, comércio e exportação de ouro nos municípios de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso.

Organizações criminosas controlam o garimpo ilegal que atinge terras indígenas e unidades de conservação no sudoeste do Pará. Investigações já chegaram, por exemplo, até a um empresário acusado de comercializar 1370 quilos de ouro ilegal somente entre 2019 e 2020. Dirceu Frederico Sobrinho, da FD Gold, é próximo de Jair Bolsonaro e figura frequente em Brasília.

Desde os anos 80 que os Munduruku denunciam a invasão das suas terras. Quadro que se agravou durante o mandato de Bolsonaro. Entre 2018 e 2019, a quantidade de quilômetros de rios destruídos no território Munduruku aumentou 101%, destaca o Greenpeace. “O garimpo prejudica todo o leito do rio, causando impacto para todo o ecossistema que o circunda. Os Munduruku têm sido seriamente afetados”, afirma Carolina Marçal, do Greenpeace.

Green Peace e Observatório da Mineração

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