O jornalista e fundador do Wikileaks, Julian Assange, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, paralelamente ao crescimento do movimento contra sua extradição aos Estados Unidos e a favor de sua libertação incondicional. Assange foi nomeado por várias pessoas, incluindo membros do Parlamento Europeu e vencedores do prêmio, que atenderam aos pedidos de sua companheira, Stella Moris.
A indicação foi apresentada em 29 de janeiro pelos políticos alemães Martin Sonneborn, membro do Parlamento Europeu, e Sevim Dağdelen, que integra o parlamento alemão.
Em suas cartas ao comitê do Nobel, eles explicaram que a indicação de Assange é “em homenagem às suas inigualáveis contribuições na busca pela paz, bem como ao seus imensos sacrifícios pessoais para promovê-la para todos”. Eles ressaltaram ainda que o trabalho de Assange e do Wikileaks tem contribuído com mecanismos internacionais pela verdade e justiça, como a Tribunal Penal Internacional, cuja missão é “acabar com a impunidade processando ‘as piores atrocidades conhecidas pela humanidade’: crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídios.”
Além de Sonneborn e Dağdelen, foram feitas também nomeações por Marketá Gregorová e Patrick Breyer, membros do Parlamento Europeu pelo Partido Pirata (Pirate Party, em inglês), por Sabrina Pignedoli, política italiana do Parlamento Europeu, dentre outros.
As indicações, assim como as declarações de apoiadores em todo o mundo, destacam a contribuição de Assange para o estabelecimento da paz mundial por meio da publicação de documentos classificados pelo Wikileaks sobre crimes, tortura e violações dos direitos humanos praticados pelos Estados Unidos e seus aliados no Iraque e Afeganistão.
As nomeações fazem de Assange um candidato elegível para estar na lista de finalistas do prêmio, a ser elaborada entre os meses de fevereiro e março. Pedidos para que Assange seja considerado para o prêmio Nobel foram feitas inúmeras vezes na última década.
O comitê do prêmio só divulga a lista completa dos indicados ou dos finalistas decorridos 50 anos. Nos últimos anos, os responsáveis por indicar nomes ao Prêmio Nobel da Paz têm anunciado publicamente suas submissões e indicados oficiais, o que trouxe crescente atenção do público e da mídia sobre o processo de escolha dos nomeados.
Antes da indicação deste ano, sabe-se que Assange foi indicado outras duas vezes. A primeira foi em 2011, indicação do parlamentar norueguês Snorre Valen, e a segunda foi em 2021, nomeação feita pela ganhadora do Nobel da Paz Mairead Maguire, que também indicou Chelsea Manning e Edward Snowden.
Em sua indicações, Maguire argumentou que o “Comitê do Nobel poderia proteger e ajudar a salvar as vidas destes três defensores da paz ao laureá-los em 2021 com o prêmio Nobel da Paz. Por meio desta escolha, o Comitê homenagearia o desejo de [Alfred] Nobel, pois estaria premiando verdadeiros heróis da paz.”
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Já Snorre Valen afirmou que “o Wikileaks tem contribuído na luta global pelos mesmos valores ao expor (dentre outras várias coisas) a corrupção, crimes de guerra e tortura, por vezes conduzida pelos próprios aliados da Noruega.”
Uma vez que a tentativa dos Estados Unidos de extraditar Assange continua nas cortes britânicas, e ele permanece detido sem acusação na prisão de segurança máxima de Belmarsh, apoiadores do jornalista tem enfatizado a reiterada “omissão” do Comitê do Nobel em relação à Assange e aos denunciantes dos crimes de guerra estadunidenses.
Enquanto o Prêmio Nobel da Paz fora criticado no passado por seus diferentes vieses, o desdém do Comitê para com o trabalho de Assange ficou ainda mais evidente no ano passado, quando foram laureados conjuntamente os jornalistas Maria Resa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia. Eles receberam o Nobel da Paz por seus “esforços para salvaguardar a liberdade de expressão”.
É também digno de nota que a indicação de Assange nos três anos recebeu quase nenhuma cobertura da mídia convencional, ainda que outros indicados proeminentes tenham sido mencionados em matérias sobre a lista de possíveis laureados.
Enquanto isso, Assange trava uma longa batalha legal e apela contra um veredito do Supremo Tribunal britânico dado em dezembro de 2021 sancionando sua extradição para os Estados Unidos. Se for extraditado, Assange enfrentará 18 acusações de espionagem e crimes cibernéticos que, juntas, somam 175 anos da pena máxima de prisão.
Fonte: Brasil de Fato