Mangue *

Carta de Jorge de Lima ao cunhado dele, Povina Cavalcante, também palmarino, em papel timbrado do consultório do médico-poeta, em Maceió.
JORGE DE LIMA
(União dos Palmares – 23 de abril de 1893;
Rio de Janeiro – 15 de novembro de 1953)
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Como se nasce plátano ou carvalho, 
Eu nasci mangue no meu pátrio solo. 
Enquanto alteio em meu louvor um galho, 
Trinta raízes de alicerce atolo.
Outros são glórias, eu apenas valho 
Esse rochedo, humílimo que rolo: 
Viver comigo, para o meu trabalho, 
Fincar-me as ribas deste meu Pactolo ... 

Deixar que os outros sejam leito e altar, 
Ostentem galas, pomo grato às gentes, 
Ornem a fronte dos que vão casar; 

Para meu gozo, quero ser raiz, 
Ser galho tosco, distribuir sementes, 
Conquistar solo para o meu país. 

*(Do "Livro de Sonetos" - 1949)

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A propósito do belo soneto “Mangue”, de Jorge de Lima

A vertente social da poesia de Jorge de Lima deve ser sempre destacada diante de opiniões críticas equivocadas, mesmo poucas, que veem no poeta palmarino um intelectual alienado social e politicamente, devido à relevância que também alcançou sua poesia da fase religiosa.

É bem verdade que poesia e política não se confundem, mas não há grande poesia sem poetas atentos à realidade social e política que os envolve, de Rimbaud, Baudelaire, Maiakovski, Walt Whitman, Ezra Poud, T.S. Eliot, Bertolt Brecht a Augusto dos Anjos, Olavo Bilac e Cecília Meireles.
Fora do compromisso social explicito ou implícito na obra poética, nenhuma poesia sobreviveu. Os estilos é que variam, dos herméticos (Mallarmé) a Castro Alves (caudaloso).
Não existiriam as construções literárias das maiores expressões contemporâneas brasileiras: Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, não fossem esses poetas comprometidos visceralmente com a vida e o contexto social que os envolvem.

Estas considerações veem a propósito do  belo poema “Mangue”, de Jorge de Lima, no qual o poeta palmarino alia a maestria da construção do soneto à confissão do homem comprometido com o ser social.

Aqui, é importante se chamar a atenção para o fato de que a obra poética e romances de Jorge de Lima são muito pouco conhecidos dos alagoanos, e isto ocorre também em relação a Graciliano Ramos e outros escritores alagoanos de renome nacional.

Embora os livros de Graciliano Ramos sejam mais editados (publicados) nacionalmente, o mesmo não ocorre com Jorge de Lima, tornando-se fundamental que a Imprensa Oficial do Estado de Alagoas torne os romances de Jorge de Lima, – sempre ambientados na paisagem alagoana, – presentes em toda rede de ensino estadual e dos municípios.

Desta forma, faz-se justiça a Jorge de Lima e se proporciona aos estudantes, especialmente, o conhecimento de obras de alto valor literário nacional e de repercussão internacional, produzidas pelo escritor conterrâneo.   (Iremar Marinho)
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