IREMAR MARINHO
De Átila Iamarino a Natália Pasternak, tem muita gente se achando artista no filme da Netflix, “Não olhe para cima”. Ainda não descobriram, na trama, a dupla SujoMoro e seu fiel escudeiro Deltan Dallagnol, nem Lula e seu advogado Cristiano Zanin. Mas estão todos lá, é só procurar. Como se trata de uma hilária alegoria cinematográfica, tem encaixe para todo mundo, de Joe Biden a Jair BolsoNero, de Otário de Carvalho a Silas Malforjado e o Véio da Havan. Afinal, é para isto que se faz uma comédia.
Verdade é que a chuva de spoilers, em três dias de exibição do filme, faz o telespectador se decepcionar com a trama, esperando mais do que manjados clichês de Hollywood, garantidores de sucesso perante o grande público. É que a produção, que se vale da máxima latina do humor para castigar os costumes, ficou só a meio caminho da intenção, quando poderia espancar o sistema de forma direta, dando nomes certos aos bois do cercado global.
Enquanto o ator principal, – o cometa em disparada para a terra, – não aparece, o mundo, – em que o óbvio Império Americano, – o centro, mostra-se atabalhoado (o contrário do que realmente é), sob o comando de uma presidente incompetente (só para variar), o espaço se abre para desnudar o quanto as sociedades são alienadas e manipuladas (e parte delas prefere ser assim). E o instrumento dessa alienação, também óbvio, é a mídia manipuladora, capilarizada pelos algoritmos da internet e suas redes (antissociais).
Hilário é que os cientistas, – no momento em que o cometa atinge a terra e causa a grande catástrofe, – não estão mais preocupados em olhar para cima. Estão reunidos numa festinha familiar íntima (o mundo que se exploda).
E o filme termina em ficção científica, bem ao estilo de mais um clichê hollywoodiano, com câmaras criogênicas levando o staff presidencial para fora da terra. Mas, aí, não há escapatória, o Bronteroc faz justiça canibalesca à presidente negacionista desnudada e tatuada.
Mas a parte memorável vem quando o filme termina, depois que aparecem os créditos; é o momento de não olhar para os lados para não perder a cena patética: ver que tudo sobrou para o Carluxo, deixado para trás, perdido nos escombros da terra e sozinho no mundo.