Os poetas e seus rios

Genisete de Lucena Sarmento: vida dedicada à cultura, com foco na pesquisa da história de União dos Palmares.

Genisete de Lucena Sarmento

 

Diz o poeta Iremar Marinho

que todo menino tem um rio.

Dele é o rio Branca.

 

O rio do poeta Jorge de Lima é o Mundaú.

 

Um dia, os meninos-poetas

deixaram para trás seus rios.

 

Branca quase secou de chorar

a ausência de seu menino Iremar.

 

Mundaú expulsou de suas margens

do Jatobá e da Rua da Ponte

todos os outros meninos

por tristeza ou revolta pela perene ausência

de seu menino-poeta Jorge de Lima.

                                           (2021)

 

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União dos Palmares tem Genisete de Lucena Sarmento, pesquisadora-historiadora e poeta

Inquieta. Inconformada com o estabelecido, com o “deixa estar”, em todos os sentidos. Assim é Genisete de Lucena Sarmento, uma vida dedicada à cultura, que leva longe o nome de sua cidade União dos Palmares.

Jornalista (não precisou terminar o curso, na Ufal), fez imprensa de destaque, com a colega jornalista conterrânea Olívia de Cássia Cerqueira. O jornal impresso relampeou o marasmo da região-terra de Zumbi. É graduada em Ciências Contábeis pelo CEUB-Brasília.

Bancária do BB, vereadora de oposição (PT), diretora e secretária de Cultura de União dos Palmares, dirigente da Fundação Cultural Palmares em Alagoas, nesses contextos em que se faz atuante, Genisete faz, sobretudo, cultura.

Sua vida é contornada de amigos e de livros (literalmente), além de seus familiares, pois mora dentro de uma densa biblioteca, no Sítio Coruja, onde se dedica, em fontes do Brasil e do exterior,  à caça dos vestígios da origem da cidade-município, sendo bem sucedida na tarefa.

Seu interesse também pela ecologia, a levou ao engajamento na defesa da Serra do Frio, desmatada impiedosamente, do mesmo modo que a Serra da Barriga e a Setsrra da Laje. Veio então a criação de sua produtora de vídeos Seu Seraphim (homenagem ao “acendedor de lampiões” palmarino), através da qual realizou, entre outras, a reportagem educativa “SOS Mata do Frio”.

O mais recente capítulo na atuação cultural da inquieta Genisete é o projeto “Um Lugar, Suas Memórias”, no YouTube, em que faz entrevistas com palmarinos que contam suas lembranças da cidade, nas décadas mais  recentes, colocando à disposição do meio cultural-educacional “a história viva” da Terra de Zumbi, de Jorge de Lima, de Povina Cavalcante, de Correia de Oliveira, de Maria Mariá…

Faltam-lhe, entretanto, apoios institucionais para intensificar sua  produção de vídeos e até de filmes, e aprofundar a pesquisa de achados históricos surpreendentes, que lhe rendem livro publicado (“Ocupação das Terras do Quilombo dos Palmares e a Criação de Vilas – Introdução à História de União dos Palmares”) e outros a publicar e o interesse acadêmico até internacional por seus estudos da história quilombola que “está escrita no chão” palmarino.

São elogios?  São ainda poucos, embora ela não precise, numa quadra em que a cultura e a história são jogadas debaixo do tapete luxuoso do establishment por desinteresse, incompetência oficial ou vergonha de descobrir suas próprias implicações trágicas no intrincado da história.

Tudo vem a propósito também de mais uma faceta da mente inquieta de Genisete, enveredando (veredas das Corujas) no mundo das realidades e supra realidades metafóricas da poesia. É o destino de quem lê.

Aí está uma das primeiras produções da neopoeta palmarina, “Os meninos e seus rios”, em que dialoga por metáforas com o poeta conterrâneo universal Jorge de Lima e com este aqui, humilde, mas orgulhoso amigo- elogiador.

Esta admiração não é de agora, vem desde o tempo em que, colega de seus irmãos Sebastião Lucena e Solange Lucena, no Ginásio Santa Maria Madalena, viu Genisete ainda criança, na casa da família, na Rua Hermano Plech, em União.

Diretora de Cultura, na gestão do prefeito Afrânio Vergetti, Genisete propôs (projeto do Executivo municipal) a entrega da “Comenda Jorge de Lima” (Homenagem do Povo Palmarino, aprovada pela Câmara Municipal e entregue solenemente pelo prefeito), em abril de 1997,  pela atuação, como palmarino, na imprensa alagoana e também como integrante da “Coletânea Caeté do Poema Alagoano”, publicada em 1987. O poeta conterrâneo Gonzaga Leão é também “comendador” desta homenagem proposta por Genisete.

O poema “Os meninos e seus rios” é a senha para que os leitores de Genisete aguardem seu livro de poesias (quem sabe, livros), a somar-se a sua instigante produção cultural. Disposição não falta à neopoeta palmarina, para continuar pesquisando e produzindo, em vertentes várias da cultura.

União dos Palmares, tenho certeza, também a admira e agradece por termos Genisete de Lucena Sarmento, pesquisadora-historiadora, produtora cultural de vídeos-entrevistas e poeta.  Iremar Marinho

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