Retreta do Vinte*

"D. Pedro II espia do alto. (As barbas tão alvas tão alvas nem sei!)" - Versos do poema "Retreta do Vinte", de Jorge de Lima.

JORGE DE LIMA

O cabo mulato balança a batuta,
meneia a cabeça, acorda com a vista
os bombos, as caixas, os baixos e as trompas.

(No centro da Praça o busto de D. Pedro escuta.) —
Batuta pra esquerda: relincham clarins,
requintas, tintins e as vozes meninas da banda do 20.

Batuta à direita: de novo os trombones
e as trompas soluçam. E os bombos e as caixas: ban-ban!

Vêm logo operários, meninas, cafuzas,
mulatos, portugas, vem tudo pra ali.
Vem tudo, parecem formigas de asas
rodando, rodando em torno da luz.

Nos bancos da Praça conversas acesas,
apertos, beijocas, talvezes.

D. Pedro II espia do alto.
(As barbas tão alvas
tão alvas nem sei!)

E os pares passeiam,
parece que dançam,
que dançam ciranda,
em torno do Rei.

(De “Poemas Negros”)

 

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“Retreta do Vinte”: Sucessão de imagens “cinematográficas” de uma festa popular no Centro de Maceió

* No poema “Retreta do Vinte”, Jorge de Lima faz “desfilar”, em versos, imagens “cinematográficas” de uma apresentação da banda musical do antigo 20º Batalhão de Caçadores de Alagoas, atual 59º BIMtz, na Praça Dom Pedro II, no centro de Maceió.

O poema e a Retreta transcorrem diante da participação festiva do povo da cidade, com presença preponderante de trabalhadores e populares da raça negra.

Para  Antonio Olinto, Jorge de Lima é: “Aquele que mais longe foi em nossa terra na feitura do verso e no uso da poesia como expressão de um povo e de uma nação”.  (I.M.) 

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